Fernando Russo 25/11/2022

Neo Geo X Gold

Old but Gold

Os jogadores de uma certa idade terão boas lembranças do Neo Geo, ou da SNK, e até lembrarão ass músicas de vários games da empresa, mesmo que não tenham tido a chance de possuir um console desses. Considerando o pequeno número de consoles vendidos, o sistema teve uma incrível influência e impacto no cenário dos jogos no início dos anos 90. Lançado em uma época em que o SNES de 16 bits e o Mega Drive (ou Sega Genesis) eram os consoles mais vendidos, o Neo Geo oferecia visuais com qualidade de arcade que eram simplesmente surpreendentes. Desde então, seus melhores títulos se tornaram franquias de tamanho considerável, e certamente você já jogou ou ouviu falar em algumas, como: The King of Fighters, Metal Slug, Samurai Shodown, Fatal Fury, Art of Fighting, isso para citar apenas alguns games, e o console continua sendo um dos favoritos dos colecionadores hardcore (e ricos, porque continua custando um rim). Possuir um é quase como ter uma medalha.

Para aproveitar essa adoração dos gamers e colecionadores, a empresa norte-americana Tommo produziu o Neo Geo X em conjunto com a SNK Playmore. Um console portátil baseado no clássico sistema Neo Geo AES, ele vem em um pacote "Gold" de edição limitada que apresenta um docking station exclusivo na forma do AES e uma réplica do controle arcade que se conecta via USB. O console tem 20 jogos na memória e há um cartão de jogo SD adicional - Haō Ninpō Chō ou Ninja Masters - incluído também nessa versão.

As dimensões do monstrinho

O próprio console Neo Geo X é aproximadamente do tamanho do Sony PSP e apresenta um painel frontal brilhante e uma parte traseira emborrachada, boa para a pegada. A tela LCD de 4,3 polegadas e 480x272 pixels possui uma proporção de tela widescreen, o que é bastante incomum, visto que nenhum jogo Neo Geo suporta nada além de QQ, ou seja, a resolução 4:3. Quando você liga o sistema, os jogos são grosseiramente esticados para preencher a tela, mas um toque no botão L1 permite que você volte ao tamanho padrão. A unidade possui um slot para cartão, que serve para novos games, entrada de fone de ouvido de 3,5 mm, saída HDMI e uma porta Micro USB para carregamento. Também existem botões na borda inferior para ajustar o volume e o brilho da tela.

O joystick de 8 vias do console é baseado naquele visto no portátil Neo Geo Pocket, antecessor do Neo Geo X. Ele emite um clique alto sempre que você pressiona uma direção, mas é absolutamente ideal para jogos de luta e os shooters, estilo Metal Slug. Os quatro botões de ação principais também são firmes e responsivos.

O docking station tem uma tampa flip-up que permite inserir o console principal. Depois de fechado, você pode usar o dock como faria com um sistema AES padrão - ele se conecta à sua TV via video composto ou HDMI e pode ser conectado à rede elétrica para carregar o portátil (e para não correr o risco de parar a jogatina de repente, acreditem, é comum). A qualidade do controle arcade torna esta experiência surpreendentemente fiel; embora o stick não pareça tão robusto quanto o original, tem uma qualidade boa e bem próxima ao antigo controle que acompanhava o console original, acho que só os proprietários de AES, ou quem jogou muito nele (e o tio aqui teve a possibilidade de jogar, idade tem suas vantagens - saudade locadora do lado de casa), perceberão a diferença.

Clássicos do Arcade na palma da mão

A lista de títulos pré-instalados é abrangente, mas dá foco maior aos primeiros anos do console da SNK - uma estratégia intencional, já que jogos adicionais serão lançados em compilações, uma das quais falaremos um pouco mais adiante na análise. Os jogos incluídos são: 3 Count Bout, Alpha Mission II, Art of Fighting, Baseball Stars 2, Cyber-Lip, Fatal Fury, Fatal Fury Special, The King of Fighters '95, King of the Monsters, Last Resort, League Bowling, Magician Lord, Metal Slug, Mutation Nation, NAM-1975, Puzzled, Real Bout Fatal Fury Special e Samurai Shodown II, Super Sidekicks e World Heroes Perfect. Muitos deles já estão disponíveis para outros consoles desde o Wii, e alguns não envelheceram muito bem. Embora Metal Slug, Magician Lord e Samurai Shodown II sempre sejam títulos divertidos, nomes como Mutation Nation e King of the Monsters certamente serão jogados uma vez e rapidamente esquecidos, a menos que você tenha boas lembranças deles ou seja um apreciador da fina arte do retro gaming.

O primeiro lote de novos jogos foi lançado com cinco conjuntos de três jogos formando o "Volume 1". Eles podem ser adquiridos separadamente ou em uma coleção "Mega Pack", com todos os 15 títulos em um único cartão SD embalados em um estojo tipo concha baseado nas caixas usadas nos últimos anos da vida útil do Neo Geo AES (esse é o termo técnico pra aquelas caixas de plástico tipo fita de VHS nas quais os jogos vinham antigamente, aqui também é cultura). O Mega Pack Volume 1 também inclui um cabo que permite atualizar o firmware do console e carregá-lo usando uma fonte de alimentação. A caixa também tem espaço para o próprio console, tornando-o um estojo de transporte atraente - embora bastante pesado pros dias atuais.

Os jogos incluídos no Mega Pack Volume 1 são muito mais atraentes do que os instalados no próprio console. São eles: Metal Slug 2, Sengoku, Top Hunter, Samurai Shodown III, Savage Reign, Super Sidekicks 3, The King of Fighters '96, Blazing Star, Kizuna Encounter, Garou: Mark of the Wolves, Shock Troopers, World Heroes 2 Jet, The Last Blade, Blue's Journey e Art of Fighting 3. Embora alguns sejam melhores que outros, a qualidade dos jogos de destaque cria um compêndio impressionante, e a embalagem mostra que a Tommo entende o apelo do sistema e dos fãs de longa data. Na verdade, o mesmo pode ser dito da embalagem do próprio console Neo Geo X; a empresa até usou os adesivos Neo Geo originais que adornavam o sistema nos anos 90 para selar as caixas (só faltou a notinha fiscal do Mappin pra completar).

Gold? Mais pra pirita...

Embora o Neo Geo X consiga capturar a sensação premium do console no qual se baseia, existem elementos que diluem a experiência geral e removem muito do brilho. A tela LCD é a maior responsável por isso; é opaca e estranhamente sem vida, mesmo na configuração de brilho mais alto. O Neo Geo tem alguns dos jogos 2D mais bonitos já feitos, e é uma pena que uma tela melhor não tenha sido usada aqui para realmente exibir esses gráficos. Acho que minha velha TV Sanyo de botão tinha uma imagem mais bonita, sério.

A duração da bateria é outra decepção, com o console durando cerca de 8 horas em um bom dia. Quando você considera a idade do hardware em questão, ele realmente deve oferecer mais resistência. A falta de poder de permanência pode estar relacionada às entranhas do portátil - em vez de executar uma versão reduzida do hardware AES original, ele usa um emulador baseado em Linux rodando em um sistema em chip Jz4770 de 1 GHz. As demandas de emular o console em velocidade total podem ser as culpadas pela fraca duração da bateria, e teria sido bom ver uma otimização um pouco melhor para tornar o sistema mais longevo. Outro pequeno aborrecimento é que a bateria não está acessível ao usuário, o que significa que se ela der problema, o console se torna efetivamente inútil já que achar peças por aqui não seria absolutamente nada simples - uma preocupação primordial para os colecionadores.

Quando você conecta o Neo Geo X gold à TV, existem outras deficiências. As conexões de video composto e HDMI oferecem qualidade de imagem inferior, especialmente quando comparadas ao lindo RGB SCART que era produzido pelo AES. Dito isto, a maioria dos jogadores casuais não notará a diferença, mas é aí que reside o problema - os jogadores casuais provavelmente não vão nem saber da existência de um novo portátil de Neo Geo, se bobear, nem do antigo - serão os fãs da SNK, experientes, que comprarão este produto, e eles serão críticos, e vão caçar falhas. Eu mesmo sou exemplo disso.

Por fim, a mecânica para se ter novos jogos parece desatualizada. Embora os colecionadores adorem a ideia de mídia física, uma jogada mais inteligente teria sido vincular o sistema a uma loja online onde toda a biblioteca do Neo Geo poderia ser oferecida para download em um cartão SD, como a BigN faz há tempos. Com um preço competitivo, isso poderia ter gerado uma receita estável para Tommo e para a SNK Playmore - infelizmente, a menos que uma versão mais recente seja lançada, estamos presos a cartões SD físicos por enquanto, cada qual com seu jogo ou coletânea, sem possibilidade de download (pelo menos oficialmente).

Conclusão

Estamos contentes que o Neo Geo X tenha sido pensado e lançado; foi claramente feito com boas intenções e, desde o momento em que você abre a embalagem exuberante até a primeira vez que aperta algum botão neste fantástico portátil, tudo parece uma celebração, uma festa, uma homenagem a uma das marcas mais icônicas dos jogos de Arcade de todos os tempos. A capacidade de conectar o console à sua TV - replicando assim a sensação do hardware original - é um ótimo extra que atrairá aqueles que ansiavam por um AES há vinte anos atrás, mas simplesmente não podiam pagar (o que inclui quase todo mundo) .

No entanto, os elementos que jogam contra o Neo Geo X - a tela de baixa qualidade, a duração inexpressiva da bateria e o método de entrega de jogo desatualizado, azedam um pouco a experiência. O Neo Geo X pode acabar sendo mais autêntico do que o pretendido - está destinado a ser adorado pelos devotos da SNK e é improvável que encontre aceitação popular - assim como o sistema original. É realmente uma homenagem ao AES, numa tentativa tão frustrada de entrega quanto o Neo Geo CD (e suas telas intermináveis de loading).

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