A Revolução dos Bichos
Todos os animais são iguais
Você sabe que está prestes a ser atirado no fundo do poço e chutado sem dó quando um jogo pede que você escolha, logo de começo, entre as opções de dificuldade Normal, Difícil, Muito difícil e uma se quer a opção de permadeath para qualquer dos três. Mutant Year Zero: Road to Eden é uma experiência brutalmente difícil que puxa continuamente o tapete de debaixo dos seus pés, mesmo quando você sente que tem uma boa compreensão de sua mecânica, e é essa dinâmica que fará com que muitos amem ou odeiem o título. A ação tática do XCOM certamente saltará aos olhos, mas quando houver um porco equipado com uma espingarda vindo em sua direção, é provável que você não os tenha mais em sua cabeça dentro de pouco tempo.
É essa presença da vida da fazenda que realmente dá alguma vida à trama bastante clichê. Depois que o inevitável apocolypse atinge a Terra, muitos dos que restam se mudam para The Ark, uma cidade extensa que vive da sucata dos lugares e emprega Stalkers para fazer seu trabalho sujo. Você controla um punhado de trabalhadores, saindo pelo mundo em busca de comida, peças de armas e qualquer outra coisa que a capital exija. A reviravolta que distingue o Mutant Year Zero é que seu grupo começa com um porco chamado Bormin e um pato convenientemente chamado Dux (de duck, pato em inglês).
Isso, por si só, definitivamente, diferencia seu grupo de personagens de qualquer outro grupo de protagonistas típico, e quando outro Stalker desaparece no deserto, você recebe um objetivo claro de busca e salvamento, mas o jogo falha em capitalizar realmente o que o torna único. O mundo recebe algum grau de detalhamento por meio de anotações que você encontrará em todos os locais, mas a história de fundo vai sendo deixada de lado em grande parte pelo caminho, a fim de levar a narrativa adiante. É uma pena, porque o conto de The Ark e como ela surgiu certamente tem potencial, mas os responsáveis estão mais interessados na busca por uma cidade mítica chamada Éden, do que por uma que está em pé e construída, ali, prontinha pra ser explorada.
Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais que os outros
Participar de batalhas táticas por turnos é o que você passará a maior parte do tempo fazendo em Road to Eden. Muito semelhante à de XCOM, você trocará turnos com o inimigo, moverá suas tropas pelo campo de batalha, eliminará todos os inimigos que encontrar e manobrar seus soldados para atrito e/ou flanqueamento. Cada personagem pode executar duas ações no seu turno, como passar para uma posição e trocar tiros para ativar uma habilidade e depois se agachar para aumentar sua defesa. É algo bastante padrão para o gênero, mas o que acontece entre um combate e outra não é.
Você é capaz de se movimentar em cada ambiente à vontade e se envolver em batalhas nos seus próprios termos, e é isso que ajuda a incorporar uma enorme quantidade de furtividade no ciclo de jogo de Mutant Year Zero. Você é incentivado a ponto de parecer essencial analisar minuciosamente uma arena antes de se envolver, a fim de marcar os inimigos que podem ser eliminados antes de um grande embate sem que o restante do grupo seja alertado. O jogo envolve isso, oferecendo a todos os combatentes um cone de visão no estilo Metal Gear Solid que os alerta sobre a sua presença se você o atravessar, a menos que esteja se escondendo. Essa mecânica permite que você estude os padrões dos inimigos, prepare uma emboscada e mate todos eles no espaço de um único turno sem que ninguém perceba.
É um sistema sofisticado que permite diminuir o número de inimigos e, se você não tirar proveito disso, ficará, não raro, em momentos muito difíceis. Os inimigos no início do jogo são como um caminhão desgovernado correndo em sua direção, onde você é uma caixinha de leite. Metáforas ruins à parte, se você não diminuir a menor quantidade de combatentes inimigos em praticamente todas as situações e cenários, a probabilidade de você ter seu esquadrão dizimado sem sequer ter tempo de pensar, se jogar no chão e chorar enrolado em posição fetal enquanto chupa o dedo é imensa. E mesmo quando você derrota aqueles adversários à margem do grupo, o jogo ainda apresenta um grande desafio. As barras de saúde inimigas costumam ser o triplo da sua, as ações com 75% de chance de acertar parecem falhar com muita frequência e as granadas parecem fracas. Talvez porque jogamos o jogo base, sem atualizações. Em breve atualizaremos o jogo e experimentaremos nos aventurar nele de novo. Assim que o trauma passar.
Já naquela altura, depois de tanto abuso, era impossível distinguir homem de porco
Lembre-se de que jogamos o jogo no nível de dificuldade Normal e sem permadeath e não queremos nem imaginar como é quando você inicia em outra dificuldade. A experiência dá lugar à frustração muito rapidamente. E não é realmente sobre o nível do seu personagem, isso meio que não faz grande diferença, é o equipamento que você carrega e utiliza que desempenha o papel mais fundamental e faz a diferença real entre sobreviver ou morrer.
E embora a maior parte desse equipamento seja encontrada nos estágios, se você não estiver no calor da batalha, há a opção de dar fast travel de volta à The Ark para adquirir alguns aprimoramentos muito necessários: o Delta's Fix Tip troca as peças de armas que você encontra no campo por atualizações de armas, o Pripp's Place aceita pontos de Artefato para melhorias passivas, enquanto a Iridia's Shop troca sucata por itens e mods de armas.
Juntamente com esses aprimoramentos adquiridos, mutações para cada personagem podem ser compradas à medida que você sobe de nível. Você pode optar por aumentar suas estatísticas brutas ou usar esses pontos para comprar atualizações que podem ter enormes efeitos e mudar a maré da batalha, e é aqui que o Mutant Year Zero realmente começa a ser criativo. Bormin pode nocautear um inimigo por um turno com a habilidade Hog Rush ou ou ficar invencível para executar seu próximo conjunto imediato de ações, Dux pode criar asas e voar para lugares altos ou ficar invisível até que ele atire, enquanto Magnus pode esgueirar-se entre as diversas coberturas e esconderijos e controlar outros inimigos.
Cada personagem que você encontra ao longo do caminho vem com sua própria árvore de habilidades, e é isso que ajuda a agitar as coisas. Infelizmente, porém, eles não são nem de longe extensos o suficiente. Você poderá facilmente desbloquear todo o ramo de Bormin no meio da experiência de 15 horas e, embora você possa ter apenas três equipamentos por vez, a variedade oferecida parece sumir por volta do meio da história.
Tudo dito, porém, o maior problema é o quão mal o jogo roda. Cada área recebe você com uma tela de laoding e, depois que tudo é carregado, o jogo corta todo o áudio continuamente por alguns segundos. O jogo trava por esse período também, com quedas de quadros absurdamente altas que roubam a dinâmica da coisa. É uma falha que dura não mais que cinco segundos, mas devido à frequência com que você entra e sai de cada área, torna-se drenante para a experiência à medida que você vera isso acontecer diversas e Diversas E DIVERSAS vezes. Em outros lugares, o título faz um bom trabalho graficamente falando, mas há pouco que realmente impressione visualmente fora os designs dos personagens à medida que suas mutações ocorrem.
Conclusão
Embora Mutant Year Zero: Road to Eden tenha conseguido construir um sistema coeso para as batalhas táticas baseadas em turnos, é um jogo muito difícil para o jogador médio e inexperiente no gênero. Os fanáticos por jogos hardcore certamente vão adorar o título, mas aqueles que procuram uma abordagem mais introdutória às coisas encontrarão mais frustração do que progresso.