Fernando Russo 14/12/2022

Marvel’s Midnight Suns

Cover
Ano

2022


Publisher

2K


Developer

Firaxis Games, Virtuos, Firaxis Games, Inc.


Gênero

RPG eletrônico de estratégia, Estratégia por turnos, Jogo eletrônico de aventura


Plataformas

PlayStation 5, PlayStation 4, Nintendo Switch, Xbox One, Xbox Series X e Series S, Microsoft Windows

Sou o melhor no que faço, mas o que eu faço não é o melhor

Em chamas!

Em uma era de jogos iguais, que seguem sempre as mesmas bases e mesmas fórmulas, o Midnight Suns da Marvel se destaca como um cosplay do Homem-Aranha em um local de trabalho onde todo mundo tá de terno. Embora esse esforço quase heróico da Firaxis, desenvolvedora de XCOM, seja extraído de uma gama de fontes diferentes – como Slay the Spire, Metal Gear Acid e até Fire Emblem: Three Houses. Midnight Suns é diferente de qualquer título de super-herói que você provavelmente já jogou. E, embora o título de estratégia nem sempre prenda ao grande público, e lembre um pouco o sucesso da Marvel para Mobile, o Snap, ele merece sua atenção da mesma forma.

Claro, é normal, numa primeira vez, pensar que o jogo é só um novo XCOM com uma skin a la Stan Lee, mas isso seria uma redução simplista demais pra explicar o game. Na verdade, este é um jogo onde deve-se construir um deck - daí a inspiração em Snap - com cada personagem da Marvel, atribuído a uma lista personalizada de cartas. Você jogará essas cartas em combate para atacar seus antagonistas e fortalecer seus companheiros de equipe, construindo Heroísmo que permite que você use o ambiente a seu favor e jogue mãos ainda mais fortes. Cada membro do esquadrão tem um estilo de jogo único: o Homem de Ferro tem tudo a ver com a construção de jogo a distância, por conta de seus projéteis devastadores, enquanto Blade se inclina pro mano a mano, usando seus poderes de "aquele que anda de dia" para drenar a saúde dos inimigos com suas habilidades vampíricas.

No centro de tudo está The Hunter, um recém-chegado sabe-se lá de onde que ressuscitou para ajudar a derrotar uma antiga ameaça chamada Lilith. Embora o jogo não lhe dê muita liberdade, você terá o escopo de ditar o tipo de protagonista que deseja ser. Um sistema de moralidade determina o tipo de habilidades especiais que você desbloqueará ao longo da campanha, enquanto estará livre para construir relacionamentos com os Vingadores como quiser. Fortalecer os laços por meio de eventos sociais diversos fará com que novas cartas sejam adicionadas à sua coleção, apresentando novas oportunidades empolgantes no campo de batalha.

Ai minha Santa Aquerupita!

Isso significa que você gastará cerca de metade de sua aventura interagindo com seus parceiros em um centro social conhecido como Abbey, que funciona como um pequeno sandbox repleto de segredos. Antes e depois de cada batalha, você terá a oportunidade de falar com seus colegas super-heróis, atendendo a seus caprichos ou simplesmente os ouvindo desabafar, no melhor estilo "miga, nem te conto". É realmente uma experiência incomum: você verá estrelas como Tony Stark e Peter Parker em sua forma mais sincera aqui, assistindo a filmes antigos ou até mesmo relaxando na piscina do quintal. Participar de um clube do livro tradicional com Blade é um momento verdadeiramente "PQP o qq tá acontecendo?".

Mas embora apreciemos a tentativa, e haja momentos bem engraçados e icônicos, os escritores da Firaxis não conseguiram realizar o que queriam aqui, e isso fica óbvio, infelizmente. Há muito diálogo aqui – mais de 65.000 linhas, supostamente – e a maior parte não é muito boa. Inegavelmente, grande parte foi influenciada pelo superpopular Universo Cinematográfico da Marvel - o infame MCU - e o jogo é recheado de frases sarcásticas, que não demoram muito pra cruzar a linha entre legal e "queria enfiar a mão na cara desse maluco". Muitas das conversas se arrastam para um grau sombrio, a ponto de você se deslumbrar e esquecer o que muitos dos personagens deveriam estar lhe dizendo, e muito do enredo fracassa como resultado. Não ajuda que a direção da cena esteja travada em 2006, uma falha recorrente em lançamentos recentes de várias produtoras, aliás.

Isso significa que um dos pilares centrais do jogo, embora conceitualmente convincente, cai por terra. Você se sentirá ansioso para voltar ao campo de batalha enquanto percorre resmas de diálogo irritantes, e isso sem falar dos aspectos de aventura sem inspiração. Embora o desenvolvedor admita que explorar o Abbey é opcional, vale a pena interagir com ele porque a partir dali você evolui seus cards, o que faz com que a iteração, no final, não seja tão opcional assim. Infelizmente, muito disso equivale a pouco mais do que vagar pelos terrenos sombrios, encontrar itens colecionáveis, reunir recursos de criação e resolver quebra-cabeças simples que vão se tornando bem monótonos.

Vinde a mim, meus X-Men!

Nada disso é agressivamente ruim, e você terá momentos em que se sentirá envolvido com os arcos dos personagens e desejará ativamente construir relacionamentos. Um elemento social do qual gostamos é o senso de progressão geral; laços mais fortes levam a uma atuação mais produtiva em combate, enquanto, mesmo decorativamente, você começará lentamente a aprimorar seu centro de operações, adicionando novos móveis, utilitários de treinamento e até tecnologia. Você realmente se sente parte dos Vingadores, construindo uma base de operações contra uma ameaça sem precedentes (e no final, não são todas elas?).

E é claro que tudo isso serve para o desempenho no campo de batalha, que é onde o jogo realmente brilha. Os ambientes podem parecer pequenos e claustrofóbicos em geral, mas criam algumas dinâmicas divertidas em que você golpeia os inimigos uns com os outros e se posiciona de tal forma que é capaz de causar o máximo de dano com o mínimo de movimentos possível. Construir baralhos complementares é divertido e, como cada personagem só pode equipar oito cartas, nunca fica obscenamente opressor como em outros jogos de cartas colecionáveis, como Pokémon e MTG. Há também uma sensação visceral no combate; você pode estar apenas jogando cartas, mas sentirá cada ataque - devido ao ótimo design de som e forte uso do feedback tátil do DualSense.

Também há uma variedade real na mecânica. Embora várias missões o encarreguem de simplesmente afastar qualquer resistência, as lutas contra chefes tendem a introduzir regras e condições únicas, que o forçarão a pensar um pouco mais e ir além. Da mesma forma, existem outras tarefas com subcritérios que você precisará cumprir, como resgatar espectadores inocentes ou até mesmo destruir veículos antes que um antagonista possa escapar. Você será avaliado no final de cada objetivo com base no seu desempenho e ganhará moeda do jogo, que poderá ser investida nas melhorias já mencionadas.

O ciclo de combate, conversa e exploração é mais sofisticado e, embora haja muitos momentos em que você se verá olhando de soslaio para outra animação ou diálogo desnecessariamente longo, a emoção do combate o levará adiante. A cada missão concluída, você desbloqueará Gamma Coils, que funcionam como uma mecânica de gacha, permitindo que você sorteie cartas que podem ser adicionadas ao seu baralho, energizadas e muito mais - mais um ponto bem "semelhante" a Marvel Snap. Você pode até enviar membros da equipe em missões não tripuladas, aumentando a fantasia geral de poder liderar os Vingadores.

Conclusão

Midnight Suns traz um combate baseado em cartas, algo incomum, mas de um jeito muito agradável. Os aspectos mais aventureiros e ousados do lançamento são conceitualmente interessantes, permitindo que você interaja francamente com um amplo espectro de personagens e suas personalidades, mas a escrita e a direção da cena simplesmente não estão à altura. Isso significa que você passará longos períodos do jogo ansioso para voltar à ação, o que muita vezes salva o jogo, senão em todas elas, é exatamente a batalha tática ali presente. É um título fora do comum e com uma narrativa sem foco e atrapalhada, lembra muito um Marvel Snap pra plataforma maior e com mais capacidade as vezes, mas possui caráter e ambição de sobra, suficientes pra fazer valer a pena a jogatina.

6,0

Passou de ano!

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