Fernando Russo 04/07/2020

Horizon Zero Dawn

Cover
Ano

2017


Publisher

Sony Computer Entertainment


Developer

Guerrilla Games


Gênero

Action RPG, Action, Adventure


Plataformas

Playstation 4, Microsoft Windows

Uma mulher de fibra

Único e ousado

Horizon: Zero Dawn é incomum e excelente. A primeira tentativa da Guerrilla Games, criadora de Killzone, no sempre popular gênero de mundo aberto traz idéias e temperos de uma longa lista de clássicos contemporâneos, mas as coloca em um enredo pós-apocalíptico que tem seu próprio sabor. O casamento da ficção científica com a política tribal é diferente de tudo o que você provavelmente já viu antes, e ainda assim a confiança da desenvolvedora holandesa em abordar um conceito tão estranho brilha do começo ao fim. Não, não é o jogo perfeito, mas também não fica tão longe disso.

A aventura inaugural de Aloy é um jogo de RPG completo. Havia uma preocupação de que o lançamento pudesse compartilhar mais em comum com Far Cry Primal do que The Witcher 3: Wild Hunt, mas na escala ocidental de RPG, o (agora ex) exclusivo de Playstation 4 fica orgulhosamente muito mais próximo de Fallout 4 e Mass Effect 3. O jogo tem tudo o que você esperaria do gênero: missões, masmorras, opções de diálogo, comerciantes, assentamentos, artesanato, árvores de habilidades e muito mais.

Uma protagonista incrível

Mas, por melhor que o título esteja dentro destes moldes, ele também tem muito a dizer por si. De fato, aqueles que criticaram a Guerrilla Games por não aprofundarem a história dos Helghast podem se surpreender com a quantidade de conhecimento contida neste épico de 50 horas ou mais: tribos em disputa, lutam por crenças religiosas diferentes, enquanto facções alquebradas travam guerras civis contra monarcas que procuram curar a divisão entre sociedades. E tudo isso corre ao lado da história do Velho Mundo, a civilização que existia antes da extinção que terminou com a vida como a conhecemos hoje e permitiu que a Terra fosse habitada por enormes máquinas robóticas.

O canal para todas essas informações é a mencionada Aloy, uma órfã exilada do clã matriarcal dos Nora e forçada a viver em um barraco humilde a muitos quilômetros de distância do abraço da All-Mother, a divindade mítica que a tribo acredita ser sua deusa . Como uma pária, a caçadora ruiva serve como protagonista perfeita: sua curiosidade instintiva dá ao jogo a desculpa perfeita para transmitir informações sobre o mundo em que você habita, e você pode se surpreender ao ver como tudo isso é envolvente.

Isso não quer dizer que a narrativa seja perfeita: o elenco de apoio é geralmente bastante esquecível e as poucas missões finais que se concentram nos chamados Antigos nunca se assentam em um mecanismo satisfatório para transmitir suas grandes revelações. Mas a heroína mais do que compensa as deficiências: ela é obstinada, perspicaz, inquisitiva e sempre tão vulnerável ao mesmo tempo - pense em Katniss Everdeen e Hermione Granger com um pouco de Lara Croft e você estará, mesmo que grosseiramente no caminho certo. Apesar de sua competência em combate, ela é tão simpática e tão fácil de criar laços e se identificar, da maneira que a maioria dos personagens de videogame não é.

Combate fluído

E é através das muitas missões principais e secundárias que você se apega a personagem. Apesar do design das missões nunca atingir os picos astronômicos da campanha de Geralt de Rívia, há muito o que gostar: cada conto tem seu próprio arco autônomo que ajuda a expandir sua compreensão do mundo ou enriquece Aloy como personagem. Há alguma dublagem ruim - embora nada tão ruim quanto a agora infame missão de Brom - e algumas cenas de morte vão fazer você se encolher e querer chorar, mas no geral é uma coisa boa.

Dito isso, a falta de opções é uma área óbvia para melhorias na inevitável sequência do jogo, pois pode parecer que você está sendo canalizado por um caminho definido, em vez de ter qualquer ação significativa sobre os resultados do mundo. Este é um dos pontos onde a opus da CD Projekt Red elevou muito os padrões. Mas não é como se o título não tivesse vários pontos fortes, com suas excelentes batalhas sendo a melhor flecha em sua aljava.

Onde a maioria dos RPGs falha, nas mecânicas e ações de combate, Horizon aproveita os aprendizados de seus desenvolvedores com Killzone para oferecer uma experiência a par dos melhores jogos de ação em terceira pessoa. Equipada com um arco incrivelmente versátil, você deve usar sua inteligência para caçar os enormes dinossauros robóticos que infestam a paisagem. Discrição e tática entram em jogo quando você tenta virar as probabilidades contra os enormes oponentes mecânicos, com cada inimigo vulnerável a estratégias únicas. Você pode, por exemplo, usar setas de fogo para explodir o cartucho de combustível de um inimigo - ou remover a pistola a laser de cima de outro, só para poder manejá-la contra o adversário metálico.

Deus ex machina

Há um sistema de auto save um pouco chato, que pode frustrar as vezes, já que pode fazer com que você enfrente pedaços bem complicados novamente, se acabar se descuidando, mas depois que você se acostumar com a maneira que o jogo quer que você jogue, é incrivelmente gratificante virar as marés contra essas probabilidades esmagadoras; enormes barras de saúde cairão rapidamente assim que você souber as melhores táticas para reduzi-las e, embora algumas repetições aconteçam conforme você se aproxima do final do jogo, você sentirá como se tivesse dominado as máquinas. É uma pena que o combate humano seja tão simplista em comparação; os robôs são seriamente inteligentes, enquanto as pessoas são meio bobas e praticamente esperam que suas cabeças sejam estouradas.

Ainda há o cenário deslumbrante para absorver enquanto você derruba seres humanos idiotas e máquinas sem coração. Sempre houve uma rivalidade entre os estúdios primários da Sony por superioridade técnica, e a coroa, desta vez, foi temporariamente para Holanda. Alguns pop-ups muito pequenos à parte, Horizon é uma execução maestra: ele tem toda a fidelidade de Uncharted 4: A Thief's End, mas oferece-o em um mundo aberto amplo e contínuo. A qualidade dos modelos dos personagens pode parecer estranho nas conversas devido às animações faciais plásticas no estilo Bethesda, mas isso geralmente é perdoável, dada a qualidade exibida em outros lugares.

Não são apenas as conquistas técnicas que chamam a atenção: é a direção de arte também. Tallnecks - seres parecidos com girafas - permanecem no horizonte, enquanto densas florestas pariam à sua frente, montanhas cobertas de gelo serão um desafio e até um arenoso e impiedoso deserto. Há um forte senso de identidade aqui, desde as roupas tribais que exibem misturas inusitadas com peles de animais e peças de robôs até o esplendor da cidade meridiana da tribo Carja, em comparação com a natureza rústica dos assentamentos de barracas de madeira dos Nora. Uma menção especial também deve ser atribuída à trilha sonora, que é sutil, mas excelente.

Conclusão

Dificilmente um jogo estréia tão bem e causa tanto impacto quanto Horizon: Zero Dawn. O último jogo da Guerrilla empresta livremente de uma variedade de fontes diferentes, e ainda assim aproveita esses fundamentos para criar uma experiência que é ousadamente única. Apesar da escrita nunca atingir os mesmos patamares de The Witcher 3, a ação tática está muito à frente do que esperamos do gênero, e a apresentação é simplesmente incomparável, e a lore está toda ali, pra quem quiser buscar, procurar, ler e se aprofundar ainda mais na história fascinante desta grata surpresa em forma de jogo.

10

Esse só perde para Chrono Trigger...

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