A coisa mais importante de sua vida é o objetivo que você persegue no presente momento. Toda a vida de um homem se apresenta como uma sucessão de momentos. Se você conseguir entender isso, não existirá mais nada a ser feito, nada mais a almejar. Viva sendo fiel ao objetivo do momento.
-Yamamoto Tsunetomo
A primeira invasão mongol
Quando o Império Mongol, sob a bandeira de Kublai Khan, o qual planejava a invasão do Japão desde 1268, invadiu a ilha de Tsushima em 1274, a ocupação foi nada menos que um massacre. O exército mongol não tinha motivos para respeitar os samurai da ilha e seu desejo de guerra tradicional e honrada, e assim os nativos foram rápida e decisivamente esmagados. Foi um capítulo brutal e sangrento de uma campanha que acabaria em desastre para os mongóis, já que o império seria expulso do continente japonês antes que pudesse estabelecer qualquer tipo de apoio. Isso aconteceu por duas vezes (invasões de 1274 e 1281), culminando na fama do Japão em resistir às investidas do segundo maior império que o planeta já viu (o primeiro se em área contígua), sendo superado apenas pelo império britânico, muitos séculos depois. A título de curiosidade, grande parte da vitória sobre os mongóis na segunda invasão, além da desconfiança de historiadores dos navios terem sido construídos pelas tribos chinesas com defeito, de propósito, também se deu graças ao "vento dos deuses" (Kamikaze) que varreu a costa em forma de ciclone e destruiu grande parte da frota mongol (sim, vem daí a palavra designada aos guerreiros japoneses da segunda guerra mundial. PlayerSelect também é história, rapá).
Já que nós nos localizamos historicamente, vamos ao jogo: Ghost of Tsushima é baseado na invasão inicial da ilha de Tsushima. Começa com a batalha da praia de Komoda, com cerca de 80 samurais fazendo uma tentativa condenada de enfrentar centenas de invasores mongóis, recém-saídos de sua viagem pelo mar. O tom geral do jogo é mais cinema samurai do que uma recriação precisa de eventos históricos, mas ainda é uma descrição sombria e muitas vezes trágica da guerra.
É uma história séria e pesada, e muito diferente da natureza meio HQ da série inFAMOUS. Ghost of Tsushima conta uma história surpreendentemente sombria e sem desculpas, e isso se reflete em Jin Sakai, seu protagonista. Durante todo o tempo de execução de cerca de 40 horas, Jin mal esboça um sorriso - e quem pode culpá-lo? Ele passa seus dias matando os invasores que devastaram sua casa, tentando desesperadamente encontrar algum tipo de significado em todo o derramamento de sangue e ainda tendo que deixar pra trás tudo o que era e que o definia.
O combate pela espada
E rapaz, há muito derramamento de sangue. A Sucker Punch está claramente orgulhosa do sistema de combate que foi criado aqui, e por boas razões. As batalhas são intensamente satisfatórias, cheias de movimentos hábeis e precisos de espada (embora, mais uma vez, seja mais cinemático. Muitos do movimentos e das decisões ali tomadas não fariam nenhum sentido na vida real). Aparar um golpe de forma perfeita pela primeira vez é incrível - como se você instantaneamente se tornasse parte do filme de samurai mais incrível que seu cérebro possa conceber.
Mas, apesar de todo o seu estilo, o combate é razoavelmente fundamentado. Ele segue uma linha tênue entre os contra-ataques contextuais de um único golpe dos antigos jogos de Assassin's Creed e a ação baseada em habilidades de God of War de 2018. Os inimigos não são equipados com barras de saúde excessivamente longas - eles morrem rapidamente para o aço da espada como qualquer humano normal faria, e um golpe rápido na lateral do pescoço geralmente é suficiente para fazer o trabalho. É uma mudança de ritmo bem-vinda e refrescante dos muitos RPGs de ação que levariam você a atacar seus inimigos por minutos a fio.
A única coisa que fica no caminho da espada de Jin é a postura defensiva de um inimigo. Semelhante à maneira como as coisas funcionam em Sekiro: Shadows Die Twice, quebrar a guarda de um oponente os abre para golpes fatais. Jin tem quatro posições de combate diferentes, cada uma com técnicas e ataques eficazes contra inimigos específicos. Se o seu oponente tem um escudo resistente, a posição da água, com seus combos rápidos e fluidos, é ideal. Alternar entre essas posições é fácil e se faz ao pressionar R2 e pressionar o botão de face correspondente, mas o sistema dá a cada luta um ritmo perceptível e recompensador à medida que você flui entre os vários movimentos e posturas de Jin.
Do bushido ao nindo
As coisas ficam ainda mais táticas quando as armas 'Ghost' de Jin são introduzidas. Facas de arremesso (Kunais), bombas de fumaça, explosivos pegajosos e outras ferramentas enganosas dão ao samurai vingativo uma vantagem real na batalha - especialmente quando você está cercado por um grupo de mongóis vestidos com armaduras e portando as mais diferentes armas. O combate como um todo é reativo, mas não é Batman Arkham ou Shadow of War. Você não está apenas apertando os botões certos na hora certa - você sempre tem opções, livre circulação, rolamentos, esquivas, movimentos de aparo de ataque, posturas, ferramentas e combos a considerar. Qualquer posição pode vencer qualquer inimigo com paciência e tempo - mas escolher a correta para cada inimigo pode facilitar sua vida (e fica a dica, as posições da água e da lua, com o golpe forte carregado e aprimorado, fazem um estrago imenso a todos os inimigos. Obrigado, de nada).
Conforme você avança no jogo, as habilidades de Jin se desenvolvem em um ritmo constante. As árvores de habilidade são lineares, mas você sente o impacto de cada ponto da técnica que gasta. Todo privilégio tem um objetivo e acrescenta algo novo ao arsenal de Jin, seja a capacidade de dar um chute poderoso no meio do combo ou fazer com que bombas de fumaça restaurem um pouco da sua saúde. As poucas horas iniciais de Ghost of Tsushima podem ser difíceis à medida que você aprende as coisas, mas assistir como Jin desabrocha lentamente no guerreiro mais temido da ilha é a progressão de personagens absolutamente certa.
A ascensão de Jin à lenda também se reflete na história. Após a derrota horrenda do samurai na praia de Komoda, Jin começa a perceber que as honradas artes marciais de seu povo não vão ser suficientes contra os mongóis. Ele constantemente luta com a idéia de jogar seu código de samurai fora, traindo tudo o que sabe para satisfazer seu desejo de vingança. É aqui que a furtividade entra na equação.
Das sombras servimos
Equipado com um arco e uma faca especialmente afiada (Tanto. Esse é o nome dessa "faca". Seria considerado mais uma espada curta. Porque o Daisho [conjunto de armas portadas pelo samurai, pode ser traduzido como grande (da) e pequeno (sho], do Jin tem uma tanto junto da nihonto [espada, tradicionalmente curva, de cerca de 60 a 74 cm de lâmina] e não uma wakizashi [espada menor, utilizada geralmente para combates em ambientes fechados, onde a nihonto não teria como ser manobrada], né? Talvez pro jogo dar certo.), Jin é capaz de destruir todo um campo de guerra mongol sem ser visto. Embora existam momentos em que você simplesmente não pode evitar o combate direto - especialmente durante as fantásticas lutas pessoais contra chefes do jogo - permanecer furtivo é uma estratégia muito viável, e tudo funciona exatamente como você esperaria. Isolar inimigos, observar seus inimigos da grama alta mais próxima e atacar das sombras é o que funciona. É furtivo, emocionante e satisfatório, mas ousamos dizer que o combate de Ghost of Tsushima é tão agradável que o furtivo quase parece um aperitivo ou um salgadinho. Pode ser saboroso, mas não o encherá como o prato principal.
E isso nos leva a uma das nossas únicas queixas: as seções furtivas forçadas do jogo. Embora sejam bastante raros, há momentos em que disparar o alarme resulta em um game over instantâneo (perdoem a idade do tio, acho que nem existe mais game over). Tematicamente, esses cenários fazem sentido - são situações em que o sigilo é primordial e ser descoberto arruinaria os planos de Jin. Mas isso não os impede de serem antiquados em termos de design. Nem mesmo esses objetivos são particularmente difíceis - eles apenas parecem uma relíquia de uma era passada de títulos furtivos, como as missões Mary Jane no Homem-Aranha ou uma ou outra missão de perseguição na franquia Assassin's Creed. Ghost of Tsushima oferece muita liberdade em como lutar e como abordar seus objetivos - ter tudo isso retirado parece desnecessariamente restritivo.
Pense levemente em si mesmo e profundamente no mundo
Falando em liberdade, o mundo aberto de Ghost of Tsushima é uma delícia de se explorar. É sem dúvida um dos mundos abertos mais pitorescos que já percorremos, e tudo está brilhantemente montado. Não há minimapa, então você está sempre procurando pontos de referência e seguindo o vento - um engenhoso mecanismo de orientação que o direciona para seu objetivo com rajadas que dobram as árvores ao redor e varrem as folhas pelo chão (e que pode ser acionado deslizando-se o dedo para cima no touch do Dualshock). É lindamente implementado e, junto com outros efeitos climáticos do jogo, o vento faz Tsushima parecer um lugar vivo.
É um jogo deslumbrante que exige um modo de foto de primeira classe - e a Sucker Punch o fez. Com uma enorme variedade de ferramentas de edição, filtros e muito mais, você poderá tirar a foto perfeita em pouco tempo. E ajuda que Ghost of Tsushima goste de abraçar momentos mais calmos, apesar de toda a carnificina pelo fio da espada. Locais tranquilos, como fontes termais e vistas inspiradoras onde Jin faz haiku (uma mecânica deliciosamente explorada), permitem que você desfrute da relativa tranquilidade da ilha, mergulhando nas vistas e sons naturais de Tsushima. E se você possui um conjunto de áudio surround, um home theater bacana ou um headset com som 7.1, como o Sony Platinum, o áudio realmente salta aos ouvidos e é possível perceber cada mínimo e cuidadoso detalhe ali presente.
Há algo de especial em encontrar um bom lugar para sentar e relaxar em um jogo de mundo aberto. Se esse fosse um título da Ubisoft, esses pontos contemplativos seriam substituídos por outro reduto inimigo. Em Ghost of Tsushima, você é incentivado ativamente a procurar esses lugares pacíficos - e contrastando com a intensidade jorrante de sangue das excelentes missões da história principal do jogo, encontrá-las se torna um verdadeiro destaque da experiência.
O mundo é seu lugar
Se ainda não estava claro, Ghost of Tsushima é um excelente título de mundo aberto. Há influências óbvias de The Witcher 3: Wild Hunt, Red Dead Redemption 2 e The Legend of Zelda: Breath of the Wild, mas seu cenário feudal no Japão, tom consistente e sistema de combate bastante agradável o diferenciam da concorrência. Embora exista um mundo aberto a trabalhar aqui - existem campos inimigos para limpar, colecionáveis para encontrar - você nunca é forçado a se afastar da história principal. Toda diversão parece natural por causa do design inteligente do mundo, e as missões secundárias orientadas a personagens do jogo sempre valem o esforço.
Dito tudo isso, o lançamento pode ter algumas arestas ainda. Sua apresentação é em grande parte imaculada, mas parece que nem os desenvolvedores da Sony podem evitar completamente um jank no mundo aberto. Bugs significativos são extremamente raros, mas pequenos soluços como recortes e animações com falhas não são incomuns. O jogo também carece do tipo de detalhe extremo que esperamos da PlayStation Studios. Há momentos em que as cenas simplesmente ficam pretas, em vez de mostrar que Jin realiza uma ação pontual, por exemplo.
O desempenho
Felizmente, o desempenho é sólido. O título oferece dois modos gráficos no PS4 Pro: melhor resolução ou maior taxa de quadros. O último garante uma experiência suave, enquanto o primeiro fornece visuais super nítidos ao custo de algumas quedas leves na taxa de quadros durante cenas muito pesadas. Talvez seja uma pena que não haja meio termo, mas é bom ver que, não importa como você jogue, o tempo de carregamento é quase inexistente. Carregar um save leva apenas alguns segundos - uma raridade para qualquer experiência de mundo aberto, e viajar entre checkpoints de 3 a 5 segundos, não raramente levando até menos.
Por último, mas não menos importante, o áudio do jogo é mais do que digno de ter seu próprio parágrafo. Para iniciantes, a composição é fantástica. Os temas de batalha têm tambores fortes que fazem o sangue ser bombeado mais rápido, enquanto segmentos furtivos optam por melodias sopradas. No mais, do lado da atuação, o lançamento pode ser reproduzido em português ou em japonês com legendas em português. Tentamos ambos, e estamos felizes em informar que o elenco de dublagem faz um bom trabalho.
Conclusão
Ghost of Tsushima é uma delícia de jogar e uma alegria de contemplar. A Sucker Punch criou um dos jogos de mundo aberto mais memoráveis desta geração, impulsionado por um sistema de combate imensamente satisfatório e uma história dramática e envolvente. Ao contrário de muitos de seus pares no mundo aberto, é uma experiência refinada e focada - emocionante e imaculadamente apresentada da melhor maneira possível. Uma canção de amor, um Haiku, o Bushido do designer, a produção de fim de era apropriada para o PS4.