Marlos Sanuto 01/04/2017

Crítica – Ghost in the Shell “A Vigilante do Amanhã”

“No Mangá a Personagem Não Tem Olho Puxado. E Agora?!”

By Marlos SanutoMesmo com a polêmica do Whitewashing, a escolha de Scarlett Johansson parece ter dado muito carisma ao filme. Mas será que essa acusação realmente tem fundamento ou ela se justifica no roteiro? Fato é que esse é o filme Americano mais "Oriental" que ja vimos nos últimos anos. "O presente texto não contem spoilers"Ghost in the shell é o aclamado mangá de Masamune Shirow. De onde derivou um anime e uma série animada homônimas. O mangá foi lançado entre 1989 e 1991. Os fãs mais otakus ficaram animados com os primeiros trailers. Que não mostravam nada da história Mas com takes idênticos aos do anime ele passou uma poderosa mensagem: “Seremos uma cópia fiel do anime que vocês amam”. Isso certamente gerou uma confiança principalmente pelas produtoras orientais também estarem envolvidas. Conforme aparece nos créditos iniciais.Rupert Sanders -Branca de neve e o Caçador- entrega uma obra de arte em cada frame. Toda direção de arte, design de produção estão impecáveis. Conseguindo dar a Xangai um ar futurista com uma superfície “noir”, que muito se assemelha a “Blade Runner”. Remetendo ao futuro que nós imaginávamos nos anos 80. E causando uma gostosa e contrastante sensação de nostalgia ao mais vividos.

História

Logo na abertura nos é apresentada uma belíssima cena com o nascimento (ou renascimento) da personagem principal Mira Killian (Scarlett Johansson), também chamada “Major”,que é a primeira de sua espécie. Após um acidente a única parte de seu corpo que foi salva é seu cérebro. Que é colocada em um corpo biotecnológico. Em um mundo onde implantes ou aprimoramentos tecnológicos são comuns, o drama fica por conta dos limites dessa tecnologia. Não se discute a internet das coisas, mas sim a internet das pessoas. E todas suas implicações. A apresentação desses conceitos é feita de forma didática, e simples, mas não incomoda. Uma pena que todo o debate filosófico e implicações práticas desses conflitos fiquem preteridos por uma decisão de concentrar a história na busca do passado da Major. E substituídos por conceitos filosóficos retirados da wikipedia.Certamente foi uma decisão para dar acessibilidade ao grande público. Mas em um mundo onde tivemos Matrix (o primeiro que é o que importa), Blade Runner e Westworld, onde esses debates sobre consciência, livre arbítrio e controle são bem mais profundos, não sei se essa simplificação é tão necessária. E é oque faz justamente Ghost in the Shell pai de toda essa discussão. Justamente porque o brilhantismo dessas obras depende de pensar sobre elas, e não ocorre de forma instantânea.

Personagens e whitewashing

Mesmo com as acusações de whitewashing, o cast foi bem escolhido e muito bem justificado nas entrelinhas. A história se concentra em Xangai. Uma cidade cosmopolita onde existe dentre outras, uma comunidade japonesa. O que justifica a presença de caucasianos, diversos negros, latinos, inclusive com diversidade de cabelos. O que no futuro parece que será um traço forte da personalidade. Destaque para uma belíssima negra com sardas que contracena com Scarlett Johansson em uma cena que é poesia pura. (uma pena parte da cena ter sido cortada)Johansson que por sinal surpreende por fazer uma personagem completamente diferente da viúva negra ou Lucy. Sua interpretação com movimentos e poses robóticas o tempo todo contrastam com seus olhos expressivos e arregalados quase como simulando um mangá. Olhos que são a única janela para sua real natureza interior (caso ela exista).Destaque para Takeshi Kitano que faz o dono na empresa "Hanka Robotics", que constrói a Major. E entrega todos os seus diálogos em sua língua raíz. Batou (Johan Philip) é um dos mais carismáticos. E sua fidelidade está impecável. Michael Pitt que faz um “homem misterioso” também se destaca na composição do mesmo. Destaque negativo para o “Primeiro Ministro” maniqueísta que é mau porque sim.

Conclusão

O clima noir, a beleza estética das cenas vão certamente te capturar logo no início. A trilha de Clint Mansell é impecável e envolvente. Sons tribais e synths eletrônicos, fazem uma rima narrativa com o primitivo, que é nosso cerne como humanos, e a evolução a que nos submetemos. O clima de mistério que permeia ⅔ do filme, vão agradar fãs e público civil. A controvérsia está em se usar cenas emblemáticas e muito bem filmadas em um contexto diferente das originais. Alguns podem gostar outros não. Alguns buscam a mesma obra tirada no papel carbono (entreguei a idade), refeita na tela. Outros esperam os mesmos dramas e conflitos contados de forma diferente.Fato é que o diretor Rupert Sanders fez um trabalho muito competente tecnicamente e optou pelo seguro. Certamente por ser um início de franquia. A melhor definição que encontro é a mistura de Blade Runner, Matrix e Robocop. O que não é demérito algum. muito pelo contrário. Espero apenas nos próximos, uma maturidade tanto do mercado quanto do público para novas questões. Questões essas que não precisam ser reprimidas em 2 horas de exibição. Mas podem ser levadas para fora da sala de cinema e para nossas vidas. Pois essa é a função do cinema e da arte em geral. Aprender com esses personagens a lidar com nossos conflitos. Crescer como pessoa, e não ser coadjuvante, mas protagonista da nossa própria história.

Critica

Ghost in the Shell "A Vigilante do Amanhã" Paramount Pictures

*As opiniões retratadas acima são de inteira responsabilidade do autor do texto, não retratando a opinião do site.

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