Fernando Russo 08/12/2022

Biomutant

Cover
Ano

2021


Publisher

THQ Nordic


Developer

Experiment 101


Gênero

Action, RPG


Plataformas

PlayStation 5, PlayStation 4, Xbox One, Xbox Series X e Series S, Microsoft Windows

Só de graça mesmo

Levemente atrasado

Biomutant poderia ter sido lançado há uma década, seria um bom jogo se fosse assim. Ao estimular a antiga fórmula de mundo aberto misturada com novas abordagens de RPG, o estúdio Experiment 101 parecia estar fazendo jus ao seu nome (que quer dizer algo como: Experimento: O básico). O produto final realmente prova que muita tentativa e erro estava acontecendo nos bastidores, mas Biomutant é mais um passo em falso do que qualquer outra coisa. Suas ideias originais falham em deixar uma marca no que, de outra forma, é uma experiência de mundo aberto muito rotineira.

É o potencial que mata você - este é um clássico exemplo do termo "o que poderia ter sido". Embora muitas de suas mecânicas estejam enraizadas na mediocridade, está claro que a Biomutant queria crescer e brilhas com seu sistema de RPG. Você vislumbra isso ao longo das cerca de 20 horas de aventura com verificações de fala que prejudicam suas estatísticas gerais caso você cometa erros e decisões difíceis que determinam quem fica em segurança enquanto outros são deixados para trás (fórmula magistralmente trabalhada em The Witcher 3, onde não há um mal menor). O problema é que eles representam muito pouco, optando por ser meras notas de rodapé em uma paisagem colorida, mas decididamente esparsa.

O jogo é escasso, pois o mundo de Biomutant é muitas vezes silenciado, apesar de suas sombras e tons brilhantes. O vasto ambiente pós-apocalíptico se desenvolve a partir de colinas verdes e edifícios em ruínas de uma época passada, divididos em várias regiões, cada uma com seu próprio clima e vida. Exceto que há pouco para conectar esses lugares um ao outro. Longos trechos de grama e habitações rudimentares não fornecem motivos cativantes para desviar do caminho principal - nem o conteúdo opcional real, pois as missões básicas de busca estão espalhadas por nosso diário. Biomas posteriores introduzem uma pequena fatia de variedade cosmética, embora suas desvantagens sejam praticamente as mesmas.

Briga, briga, briga

Tudo equivale a uma busca pelo caos ou pela tranquilidade (a escolha é sua) que consegue parecer básica e arrebatadora. Simplista, usando um design moderno de mundo aberto, o que mais se destaca é a ação. O elemento RPG falha ao tentar introduzir tantas coisas que os menus do jogo parecem desordenados e complicados demais pro que se vê em tela.

Equilibrando três árvores diferentes, um sistema de moralidade, oportunidades de criação muito detalhadas, várias tribos para acompanhar e longas listas de movimentos de Wung-Fu, o sistema de luta de nosso protagonista, Biomutant ameaça tombar sob seu próprio peso. Há simplesmente muita coisa acontecendo - tanto que é muito fácil se perder nos menus. Sem explicar de forma abrangente o que cada opção e mecânica tem a oferecer, Biomutant parece um tiro para a lua, um querer demais, uma coisa que, de novo, poderia ter sido, mas não foi. Parece que foi lançado às pressas, sem refinamento, sem o trabalho todo necessário, tipo um bolo cru, tinha o que precisava para ser bom, mas não assou por tempo o suficiente e ficou aquela coisa estranha, disforme e sem gosto.

O que não é tão excessivamente ambicioso é o combate em si, que pode parecer um tanto satisfatório dependendo da arma que você usa. Algumas batalhas são bem divertidas, algumas, um verdadeiro desgosto. Os combos básicos farão com que você subjugue a maioria dos combatentes e as armas personalizáveis possam causar dano à distância - no entanto, elas sempre parecem ser quase inofensivas, sem poder e com pouco potencial ofensivo, tipo aquelas armas de brinquedo dos anos 80, que tinham espoleta e só faziam barulho. O que dá às missões e à jogabilidade alguma personalidade, porém, é o texto em estilo de história em quadrinhos que aparece sempre que um combo é executado com sucesso, num estilo quase próximo a Battletoads. Os números de dano causado se espalham pela tela para informar o impacto que você está causando no HP de um inimigo. Em conjunto, eles adicionam um senso de estilo ao jogo. Nada que eleve consideravelmente o sistema de combate além do medíocre, mas pelo menos são um colírio aos olhos.

Tudo, ao mesmo tempo, em um lugar só

Uma longa lista de habilidades se esforça para expandir o escopo e as capacidades de combate, exceto que nunca chegam a fazer nenhuma grande diferença real. Na verdade, é um obstáculo que afeta todo o jogo; os inimigos são uma esponja de dano, provavelmente uma opção consciente de design para aumentar a vida útil de um jogo pouco polido e inacabado e, portanto, os poderes parecem bastante inúteis quando estão tendo tão pouco impacto no combate. Você precisará realmente espancar os inimigos antes que eles encontrem sua derrota.

A tentativa de reunir todas essas mecânicas e uma história frágil sobre a Árvore da Vida e as tribos que se refugiam ao lado dela tornam o jogo bem, como posso dizer, "meh". Embora tudo seja bastante desinteressante, o verdadeiro destaque, negativo (e sim, isso é possível, a coisa pode piorar) é o narrador. Ele é essencialmente a única voz que você ouvirá no jogo, transmitindo o que os outros personagens estão dizendo e seu significado, em vez de deixá-los falar por si mesmos. Isso tira a imersão do jogo, qualquer ligação e qualquer profundidade que os personagens pudessem, porventura, ter. Não há o senso de que cada um, cada personagem seja único. O narrador nos tira a possibilidade de formar um vínculo com qualquer personagem à medida que toda as conversas e personalidade, possíveis tiques, entonações e maneirismos se perdem, e toda a narrativa é toda mostrada a você pelas lentes de um terceiro.

O que banaliza ainda mais qualquer tentativa de conversa são as opções de diálogo que você tem para escolher, a grande maioria das quais são apresentadas como perguntas em vez de afirmações. É uma escolha de design no mínimo estranha que rouba de você muitas decisões significativas, especialmente quando há um sistema de moralidade que se mostra ativo tão rápido quanto pode. Na verdade, esses dois elementos agem um contra o outro - por que você deveria se importar se o jogo considera você claro, escuro, bom, mal, caótico, leal ou qualquer outra coisa quando as interações são em sua maioria desprovidas de escolha adequada? Claro, é bastante óbvio quando uma dessas decisões que afetam a moralidade aparece, mas as discussões intermediárias, que levam você até ali, não parecem importar. Ainda mais quando há meia dúzia de gatos pingados povoando uma vila ou uma cidadezinha e só um chama a atenção em efetivo, e nem isso é bom no final.

Lesma mutante

Para a cereja do bolo, ainda temos um probleminha bem bacana, e que deixa bem claro o quanto o jogo foi lançado precocemente, que a taxa de quadro baixa e em constante queda, o que agora está em um estado razoável após os patches. E por favor, entendam o que foi dito aqui: Razoável. Um modo de 60 fps está disponível no Playstation 5, no modo compatibilidade, e no PS4 Pro, com o antigo console atingindo esse objetivo na maior parte do tempo, mas não em todo ele. Travamentos e engasgos rápidos quebram o fluxo de combate e o pouco de imersão que o jogo consegue proporcionar, mas são poucas e distantes entre si nestas plataformas. Ainda, há o pop-in de texturas, o que acontece com muita regularidade, e fontes de luz com falhas. Se for jogar, faça todos os updates, pra passar menos raiva.

Biomutant poderia ter sido algo especial, poderia ter sido inovador, poderia ter sido bacana e, se o desenvolvedor se esforçasse, ou tivesse tempo, poderia até ter sido um jogo, mas o ambicioso projeto falha em capitalizar o que traz de diferente. Preso nas garras de um mundo aberto de uma geração passada, suas próprias ideias são frustradas por uma sobrecarga de outras mecânicas falhas e menus avassaladores e confusos, que soterram o jogador. Ao tentar fazer tanto, Biomutant pulou a parte em que deveria ter construído uma base sólida para então tentar inovar, com patches ou DLCs gratuitas futuramente, que fossem. Embora ainda haja potencial aqui, a primeira tentativa do Experiment 101 não conseguiu fazer uso dele, e falhou miseravelmente.

Conclusão

O intrincado sistema de criação, permitindo que você personalize cada peça de sua roupa com complementos. É provavelmente o aspecto mais impressionante do Biomutant - o desenvolvedor, Experiment 101, realmente tentou fazer algo com potencial de ser genuinamente bom e até inovador. Você pode organizar objetos domésticos aparentemente aleatórios em um esquema que os transforma em uma arma de destruição em massa e melhorá-la com atualizações mais adiante, isso poderia ter sido o diferencial. Mas, no fim, Biomutant tentou inovar demais, trazer coisas demais e pecou em tudo, inclusive no básico. Esperamos que a Experiment se organize melhor, porque as ideias ali são boas, e consiga entregar um título de maior sucesso numa próxima vez.

5,0

Tá ruim, mas tá bom...

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